terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Método ou "receita de bolo"?



A história da filosofia nos tem mostrado que não há unanimidade em relação a escolha de um método para ser adotado no ensino, na pesquisa, na ação filosófica, ou no escrever filosófico.
Só pra citar alguns: Platão, Descartes, Espinosa, Hegel e Husserl divergem em relação ao uso de regras de um método. Desses, há métodos especiais desenvolvidos por eles mesmos como: existencial, fenomenológico, dialético, intuitivo e o transcendental que podem privilegiar a análise, a síntese, indução, dedução, a ação, o processo...
Porém, uma questão que merece ser privilegiada é: Que fins e meios irei adotar para ensinar nas minhas turmas do 1°, 2° e 3° anos do ensino médio da rede pública ou particular?
Comumente utiliza-se a tendência empirista herdada do modelo de Escola Tradicional onde o aluno (desprovido de luz) é uma tabula rasa que precisa ser escrita e o professor (aquele que professa, ou prega) deve escrever e emanar conhecimento (luz).
Pode-se, a partir dessa perspectiva, oferecer um conhecimento enciclopédico, focar na história da Filosofia tendo o conhecimento como um produto pronto, sem necessidade de trocar, de feedback ou reconstruções de conceitos. Com essa escolha temos a facilidade para adotar um livro qualquer de história da Filosofia e fazer com que os alunos copiem ou decorem seu “conteúdo”.
Tendo a comparar a escola tradicional com uma indústria, como os seus termos o denunciam: produto, processo, matéria, conteúdo, disciplina, qualificação para o trabalho et alli... Mas como não estamos aqui para discutir uma filosofia da educação ou uma crítica ao Establishment e o Status Quo voltemos para o Ensino.
Tenho me preocupado muito com as solicitações, dos professores, de “receitas de bolos” (aulas prontas) para ensinar, com material pronto. Até entendo, pois estão no labor, no sentido que Hannah Arendt descreve, mas que o professor deixe de ser aluno, estudante ou pesquisador é preocupante, e um professor de Filosofia alienado (tornado coisa) é tão necessário quanto a Wikipédia ou um Cd Room comprado em bancas de revista.
A partir do século XX, a ênfase foi retirada do produto e colocada no processo pelo qual o aluno atua de modo dinâmico. Com essa escolha, um professor desatento, mal preparado ou alienado, pode deixar de lado a herança cultural e se perder em discussões infrutíferas e infindáveis. Mas vai aí outra “receita de bolo”: pegar um tema da atualidade como a política, a violência e a liberdade apresentando-lhes questões para que os alunos os problematizem e discutam em grupo e avaliando-os a partir dos conteúdos apreendidos, discutidos e até escritos.
Desse dilema da Filosofia como produto ou como processo vale ressaltar que o produto (o conhecimento) por exemplo história da filosofia, é indispensável no ensino de Filosofia. E de nada vale se o aluno adquire esse conhecimento e não tem a capacidade de expressá-lo, ou seja de processá-lo.
Mesmo que tenhamos que aceitar o material didático, escolhidos pelos secretários de educação estaduais, podemos passar por cima de alguns conteúdos e substituí-los por outras referências, ou até acrescentando mais material.
Na Filosofia temos uma vantagem em relação a disciplinas como Matemática e Ciências da Natureza que é em relação a escolha de conteúdo que para eles já está posto e é imovível, já para a Filosofia é outra história, pois mesmo que nos dêem um plano de aula, de curso, livros, filmes, podemos, utilizando o mesmo material, levar as discussões para a profundidade ontológica ou epistemológica que quisermos.

Não que goste, mas procurarei escrever algumas “Receitas de bolo” daqui em diante.
Profº Ms. Marney Cruz

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