Renata Paiva Cesar
Pensar no ensino de filosofia e na questão das virtudes na filosofia prática
aristotélica não é tarefa fácil. Aristóteles pensou a filosofia de maneira vasta, seus
estudos envolvem diversas áreas, mas para efeito desta pesquisa nos concentramos
na análise da obra Ética à Nicômaco, com o objetivo de compreender qual seria a
função da filosofia prática, quais os elementos envolvidos e principalmente o que seria
a felicidade e as maneiras de alcançá-la. Do mesmo modo, pensar no ensino de
filosofia é pensar em toda problemática envolvida durante toda a história até os dias
de hoje.
Sobre a ética, Aristóteles nos diz que a filosofia prática é uma ciência que
busca investigar o bem, mas relacionado com as ações humanas, com o objetivo de
transformá-las, melhorá-las cada vez mais. Na filosofia prática envolve-se o saber
teórico, já que se faz uma investigação sobre o próprio bem e busca-se teorizar sobre
as ações dos homens, porém, o seu objetivo principal é buscar um saber prático, ou
seja, um saber aplicável. O objetivo então é investigar o que seria o bem para assim
alcançá-lo.
A filosofia prática se distingue das outras ciências pelo seu fim muito
específico: alcançar uma vida melhor. Ao analisarmos a Ética à Nicômaco, nos
deparamos com a concepção de Bem aristotélica, que sugere que nos concentremos
no bem realizável pelo homem.
Todas as nossas ações tendem a um fim e este fim levado em suas últimas
consequências é um fim comum a todos os homens: ser feliz. Todas as nossas ações
visam ao mesmo fim, alcançar a felicidade, entendida como uma realização pessoal,
ter uma vida próspera.
Diante disto, realizou uma investigação sobre o que seria a felicidade e quais
seriam os meios realizáveis para alcançá-la, o que nos levou a questão das virtudes,
pois são elas que constituem o caminho necessário para alcançarmos a eudaimonia.
Considerando então que algo é considerado bom quando realiza sua função própria,
isto é, o homem se tornará bom se for capaz de exercer a função que lhe é própria, ou
seja, agir conforme a razão.
As virtudes são disposições da alma. Assim como nossa alma é dividida em
seu lado racional e outro emocional, as virtudes também se dividem, sendo a virtude
moral a lidar com a parte emocional do homem e a virtude intelectual com a parte
racional.
Entendemos por virtudes morais as virtudes que estão quase sempre
relacionadas com o conceito de justa medida, elas são respostas práticas às
situações. Já as virtudes intelectuais relacionam-se com a parte racional de nossa
alma.
Acredita-se que o estudo da ética, em particular das virtudes, tende a tornar o
ensino de modo geral, mais humano, pois se pretende refletir acerca das ações
humanas, ou seja, analisar como agimos, o porquê agimos assim e deste modo, poder
pensar em outras possibilidades de ação que nos aproxime da felicidade, visto ser
este o fim de todas as nossas ações. A contribuição de uma reflexão acerca das
virtudes na sala de aula do ensino médio seria a de justamente permitir que os alunos
pudessem pensar na questão de uma vida próspera, feliz. E a partir desta reflexão
agirem conforme a função que lhes são próprias, agir conforme a reta razão, agir
virtuosamente.
Sabemos que as virtudes não são inatas, que são aprendidas através da
imitação e repetição. Assim, o ensino das virtudes morais se dá pelo exemplo, mas
isto não invalida a utilização dos livros e teorias, pois com eles é que compreendemos
o que deveríamos fazer ou ser, ou viver... (Comte-Sponville, 2001). Este seria um
primeiro momento de um estudo das virtudes na sala de aula, porém, não basta
teorizar, tem-se que buscar a prática, para que seu exercício torne-se um hábito, como
propõe Aristóteles.
Para Aristóteles a educação ética ajuda a transformar as potencialidades em
ato e deste modo as pessoas serão capazes de viver bem e se realizarem, ou seja,
serão felizes. Cartolano afirma que “a tarefa da filosofia é ser reflexão da prática; é
orientar, organizar e fundamentar a atividade prática do homem, com vistas à
transformação efetiva da realidade” (p. 84, 1985).
A virtude é o que define algo como sendo bom, é uma espécie de poder, mas
um poder específico. Comte-Sponville se aproxima da concepção aristotélica quando
afirma existir uma função própria para o homem, segundo um tipo de vida peculiar e
ao indagarmos sobre qual seria a excelência do homem, Aristóteles responde que é
ter uma vida racional, porém, podemos ir além e afirmar que é necessário, além da
racionalidade, o desejo, a educação, o hábito, a memória... Segundo Comte-Sponville
“a virtude de um ser é o que constitui seu valor, em outras palavras, sua excelência
própria”, ou seja, a virtude do homem é agir humanamente.
Neste sentido a finalidade de toda educação deve ser a de permitir que os
alunos possam exercer a função que lhes é própria, isto é, agir bem, conforme a
atividade virtuosa, de modo que assim possam tornar-se pessoas realizadas e enfim,
felizes.
Nosso trabalho transitou pelas áreas da filosofia prática aristotélica e do ensino
de filosofia no Brasil, porém, não podemos dar tal trabalho como acabado, há muito
ainda que se investigar e, conseqüentemente, aplicar em nossa realidade. Deste
modo, o objetivo é que possamos em breve prosseguir com os estudos e nos
aprofundarmos nestas questões, chegando cada vez mais próximo de uma vida
efetivamente próspera.
FONTE:
http://revistapandora.sites.uol.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário