segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O ENSINO DE FILOSOFIA NO BRASIL

Renata Paiva Cesar

O ensino de Filosofia


O ensino de filosofia no Brasil foi problemático e embora muitos problemas
tenham sido solucionados, ele ainda enfrenta dificuldades. A filosofia como disciplina
entrou e saiu do currículo por diversas vezes.
O objetivo deste capítulo é apresentar um breve histórico da disciplina no Brasil
com um olhar voltado para a necessidade desta disciplina, a problemática que a
envolve e a possibilidade da escolha do ensino da ética como parte do conteúdo a ser
ministrado e assim vislumbrar possibilidades de melhorias no ensino desta disciplina.

Panorama histórico

Portugal exercia forte influência no pensamento do Brasil colônia. A população
da metrópole era um misto de cristãos, judeus e árabes, cada um com suas próprias
concepções de mundo, de valores e com interesses diferentes. Como afirma Cartolano
(1985):

A filosofia foi no Brasil, desde os tempos coloniais, um luxo de
alguns senhores ricos e ilustrados: do colono branco que aqui
chegara e que constituíra a classe dominante da colônia,
conservando os hábitos aristocráticos da classe dirigente da
metrópole (p. 20).

Nos séculos XVI e XVII, depois do surto do café, Portugal entra em decadência
econômica, que foi agravada pelo atraso cultural que o país se encontrava, assim
como pelo fanatismo religioso. Neste momento começam a chegar as ideias políticas e
filosóficas da França, influenciando intelectuais e despertando neles uma vontade de
independência política.
A filosofia nesta época pretendia ultrapassar as ideias da escolástica, era uma
mistura de cartesianismo não tão metafísico e empirismo britânico. Essas ideias,
segundo Cartolano (1985), “vulgarizadoras da ciência e da filosofia” eram difundidas
pela Enciclopédia, em 1750 a 1780, editada por Diderot e a‟Alembert.

O enciclopedismo influenciou muitas pessoas no Brasil, que foram presas pelo
crime de “enciclopedismo” por conta dos levantes contra a cobrança dos quintos,
principalmente em Minas Gerais. O enciclopedismo significava um ato de ideias
opostas às ideias estabelecidas na metrópole e nas colônias.
Com as influências da filosofia moderna, iniciou-se um combate à doutrina dos
jesuítas. O ministro de D. José, marquês de Pombal, instituiu as “aulas regias” em
substituição ao ensino dos jesuítas, convocando pela primeira vez, leigos para
ministrá-las. No entanto, o ensino orientava-se para os mesmos objetivos religiosos e
livrescos dos jesuítas, já que os novos professores tinham sua formação em colégios
jesuítas. O ensino de filosofia permaneceu com o caráter escolástico e livresco.
As ideias do século XVII, como as iluministas, as da filosofia moderna, as do
cartesianismo, as da revolução científica, começaram a penetrar em Portugal e a
iniciar um combate às doutrinas jesuítas. As aulas de filosofia até então seguiam a
rigidez da lógica dos jesuítas, mas foram substituídas por livros e doutrinas mais
recentes.

A ruptura com Portugal gerou um clima de entusiasmo em que as ideias
européias passaram a ser um modelo seguido por muitos intelectuais brasileiros. O
conteúdo dos cursos de filosofia foi impreguinado por um espírito humanístico e
universalista, já que naquele contexto cultural e político as influências do ecletismo
francês inspiravam intelectuais que afirmavam que a filosofia era uma aliada da
religião e de todo o ecletismo.

Já nas províncias, a filosofia era incluída obrigatoriamente no currículo dos
cursos secundários, antes até do Colégio Pedro II cujas disciplinas tinham caráter
propedêutico. Nas aulas encontrava-se ainda “o compendio clássico aristotélicotomista”.
O Brasil, em 1888, passou por transformações importantes no cenário político,
econômico, social e cultural como a construção de companhias anônimas, comerciais
e industriais, a inauguração da linha de telégrafo, a abertura ao tráfego da Estrada
Central do Brasil e também o Banco do Brasil transformou-se em banco de emissão.
Os recentes desenvolvimentos materiais facilitaram a entrada de ideias
estrangeiras que passaram a influenciar a opinião dos intelectuais nacionais. Iniciou-se
no Brasil um movimento de renovação da escolástica, “na tentativa de restaurar o
antigo escolasticismo que fora separado pelas ideias do cartesianismo” (p. 29). A
filosofia ensinada era um misto de ecletismo e cartesianismo.

Na segunda metade do século XIX, “novas ideias começaram a participar da
vida intelectual brasileira e a determinar um progresso do espírito crítico” (Cartolano,
1985, p.30), a saber, as ideias positivistas, evolucionistas, etc.. Nesta época, o
positivismo passou a influenciar a educação brasileira.
Os ideais da Revolução Francesa e a filosofia da Educação de Rousseau
inspiraram Carlos Leôncio de Carvalho e o levaram a instituir em 1879 uma reforma
que tornava completamente livre o ensino primário e secundário no município da Corte
e o superior em todo o Império.

Em 1890 foi decretada, por Benjamin Constan, uma reforma no ensino primário
e secundário do Distrito Federal. Esta reforma foi posta em prática em 1891 que previa
a gratuidade da escola primária, a liberdade e a laicidade do ensino. As disciplinas da
escola secundária eram distribuídas de acordo com a classificação de August Comte,
e a filosofia, segundo esta orientação positivista, não se encaixava como matéria
doutrinal; nesta reforma houve apenas um acréscimo de disciplinas científicas, o que
tornava o ensino mais enciclopédico.
Como já mencionado, as correntes positivistas e evolucionistas influenciaram o
pensamento europeu e brasileiro. Negava-se a metafísica e afirmavam apenas que o
conhecimento está contido nas ciências positivas.
O Brasil, já na época da independência política, ainda preocupava-se mais com
os problemas dos meios culturais europeus do que com os problemas nacionais.

Copiava-se o modelo da universidade napoleônica, que assumia características
próprias em função dos interesses das classes dominantes.
Após 1930, houve mudanças no ensino de filosofia e no contexto educacional,

“As modificações na infra-estrutura econômica, provocando a
diversificação da produção, determinaram novas funções para
a escola que foi, então, chamada a fornecer treinamento e
qualificação de mão-de-obra para a indústria” (Cartolano, p. 55,
1985)

A escola manteve um caráter propedêutico, acadêmico e elitista, atendendo às
exigências de sua maior demanda social, adequando-se aos padrões de educação da
elite, que junto com o interesse das camadas emergentes, determinaram a expansão
da escola, que não levou em consideração as necessidades da sociedade como um
todo. A escola permaneceu sendo vista como via de ascensão social, sendo assim, as
camadas mais baixas passaram a forçar sua entrada na escola para então conseguir
maior destaque na sociedade. Mas a escola capaz de dar status era a escola
acadêmica e não a profissional, então, era naquela que as camadas mais baixas
buscavam; e buscavam não pelo conteúdo livresco e enciclopédico, mas pela posição
social que podiam alcançar através do título por ela conferido.

FONTE

Leia o restante desse artigo no site da Revista Pandora:
revistapandora.sites.uol.com.br


Revista Pandora Brasil - Nº 38 – Janeiro de 2012 - ISSN 2175-3318
“Filosofia, educação e virtude: o caminho para a felicidade" Textos de Renata Paiva Cesar”

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