Blog destinado a pesquisas, debates, novas publicações e eventos sobre Filosofia no Ensino Médio destinado a estudantes e professores de Filosofia.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
ANPOF DO ENSINO MÉDIO
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA
XV ENCONTRO NACIONAL DE FILOSOFIA DA ANPOF
Curitiba – 22 a 26 de outubro de 2012
A Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia programou para o seu próximo encontro bianual um conjunto de eventos paralelos voltados para os professores de filosofia do Ensino Médio, a ANPOF do Ensino Médio. Com isso, a ANPOF espera atender a uma demanda crescente, do poder público, dos professores de filosofia do Ensino Médio e da comunidade universitária, em torno das contribuições do trabalho acadêmico de nível de Pós-Graduação em filosofia para o ensino de filosofia no Ensino Médio.
Recentemente, a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) criou diversas iniciativas de fomento à formação dos professores da Educação Básica, com a participação da comunidade acadêmica (Prodocência, PIBID, PARFOR etc.). Qual o papel da Pós-Graduação nesse cenário? Diante das diversas posições acerca do mérito, das finalidades e métodos do ensino de filosofia na Educação Básica, a ANPOF assume a responsabilidade de abrir um espaço de diálogo e troca de experiência, onde as demandas por uma formação qualificada para a Educação Básica possam ser ventiladas e atendidas, na medida do possível, do interesse da comunidade acadêmica e dos próprios professores do Ensino Médio e licenciandos em filosofia.
Uma premissa fundamental dessa iniciativa é que há, evidentemente, uma via de mão dupla entre a Educação Básica e o Ensino Superior. Com a ANPOF_EM, esperamos contribuir para que essa via se torne ainda mais ampla, propiciando o fortalecimento e a integração da comunidade acadêmica em seus diversos níveis de atuação profissional, de ensino, pesquisa e extensão.
INSCRIÇÕES A PARTIR DE 16 DE MAIO
(com taxas especiais para professores do ensino médio)
http://anpof.org.br/encontros/15/
PROGRAMAÇÃO DA ANPOF_EM:
*Relatos de experiências*
(ver chamada abaixo)
*Minicursos*
(inscrições a partir de 20 de agosto, disponível apenas para participantes com inscrição geral no evento)
*Sessão Plenária: Pós-Graduação e Ensino Médio*
*GT Filosofar e Ensinar a Filosofar*
RELATOS DE EXPERIÊNCIA/ANPOF_EM
Chamada para inscrições de propostas
1)As sessões de relatos de experiência da ANPOF_EM têm como objetivo divulgar e discutir experiências de ensino de filosofia realizadas em escolas de ensino médio.
2)As experiências serão selecionadas com base na sua relevância para a melhoria e ampliação do ensino de filosofia e no seu potencial de replicação em outras escolas e regiões do país.
3)Poderão se candidatar professores de filosofia do ensino médio das redes públicas e particulares de ensino, que tenham participado das experiências a serem relatadas seja como principal protagonista seja como colaborador.
4)Serão selecionadas 20 experiências
5)As sessões de apresentação ocorrerão nos dias 22, 24 e 25 de outubro, das 16h00 às 18h30.
6)O tempo para cada apresentação será de 20 minutos, seguidos de 10 minutos de discussões e debates com os ouvintes.
7)As propostas deverão ser encaminhadas em formulário eletrônico próprio, disponível em www.filosofia.ufpr.br/anpofensinomedio
8)As propostas serão avaliadas e selecionadas com base em parecer emitidos pela comissão organizadora e pelo comitê científico.
9)Os autores das propostas selecionadas deverão também realizar a sua inscrição geral no evento (em http://anpof.org.br/encontros/15/), com o pagamento da taxa de inscrição, para que possam ter confirmado a inclusão do seu relato na programação da ANPOF_EM.
Calendário:
27/02: Lançamento da chamada para inscrições de propostas
05/03 a 27/04: Período para o envio de propostas (www.filosofia.ufpr.br/anpofensinomedio)
02/05 a 28/06: Período para avaliação e seleção das propostas enviadas
16/07: Data limite para a divulgação das propostas selecionadas
15/08: Data limite para que os autores das propostas selecionadas realizem a sua inscrição geral no evento (em http://anpof.org.br/encontros/15/)
Comissão organizadora:
Edson Pegoraro (SEED-PR), Eduardo Barra (UFPR), Filipe Ceppas (UFRJ), Juliano Orlandi (editor da seção "Filosofia na Escola" do site da ANPOF), Marcelo Guimarães (Colégio Pedro II, RJ), Valeria Arias (SEED-PR)
Comitê científico:
Antonio Edmilson Paschoal (PUCPR), Celso Pinheiro (UFPR), Danilo Marcondes (PUCRJ), Delamar Dutra (UFSC), Edgar Lyra (PUCRJ), Elisete Tomazetti (UFRGS), Geraldo Balduino Horn (UFPR), Inara Zanuzzi (UFRGS), Jairo Marçal (Unibrasil), Marcelo Marques (UFMG), Marcos von Zuben (UERN), Patrícia Velasco (UFABC), Pedro Gontijo (UnB), Renato Nogueira Jr. (UFRRJ), Roberto Rondon (UFPB), Silvio Gallo (Unicamp), Telma Birchat (UFMG), Walter Kohan (UERJ).
FONTE:
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE FILOSOFIA
Prezad@s,
Como informativo divulgo essa oportunidade de especialização em ENSINO DE FILOSOFIA em Fortaleza promovido pela Faculdade Católica de Fortaleza, antigo Seminário da Prainha.
*Não estou recebendo nenhum pagamento para divulgar essa informação.
Att
Prof. Ms. Marney Eduardo Ferreira Cruz
ESPECIALIZAÇÃO
Filosofar com os jovens é, portanto, capacitá-los para o debate, para o confronto de idéias, para o posicionamento diante dos fatos e tomada de decisões, tendo sempre como referencial a tradição do pensamentos filosófico, e ao mesmo tempo, a abertura para a construção de novos pensamentos, uma vez que a curiosidade instigadora dos grandes filósofos é a mesma de todo ser humano e a liberdade de pensar é a matéria prima da filosofia.
Apesar da importância do filosofar para a construção de novas perspectivas pessoais e sociais, há, no entanto, um evidente desinteresse dos alunos pela disciplina de Filosofia nas escolas. Diante deste contexto pergunta-se: a que se deve este desinteresse? Como esta disciplina de tão grande valia vem sendo ministrada para os jovens? Qual a metodologia aplicada? Qual o lugar da filosofia no currículo escolar? Qual a formação exigida pelas Secretarias de Educação para se lecionar essa disciplina?
Diante de todas estas indagações e interesse consciente pelo pensamento filosófico, a Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) toma a iniciativa em promover o Curso de Especialização no Ensino da Filosofia contribuindo, assim, para um ensino de melhor qualidade que desenvolva as condições potenciais de pensar livre e consistente.
OBJETIVO GERAL:
Desenvolver o ato de filosofar tanto no seu uso teórico como prático com o intuito de promover a capacitação e qualificação de 50 professores que lecionam ou que desejem lecionar a disciplina de Filosofia no Ensino Médio.
PROGRAMA CURRICULAR:
Ontologia ou Metafísica 45h/a
Metodologia do Ensino e Pesquisa em Filosofia 20h/a
Lógica 45h/a
Epistemologia 45h/a
Antropologia Filosófica 45h/a
Filosofia Social e Política 45h/a
Estética e Filosofia da Arte 45h/a
Os Sistemas Éticos na História da Filosofia 45h/a
Fundamentos Filosóficos, sociais, culturais e legais da Educação no Brasil 45h/a
Didática e organização curricular 25h/a
INVESTIMENTO
Inscrição/ matrícula: R$ 75,00
Matrícula + 15 parcelas de R$ 275,00
COORDENAÇÃO
Profª Dra. Maria Celeste de Sousa e Profª Dra. Marly Carvalho Soares
FONTE: http://www.catolicadefortaleza.edu.br/ensino-de-filosofia.html
Como informativo divulgo essa oportunidade de especialização em ENSINO DE FILOSOFIA em Fortaleza promovido pela Faculdade Católica de Fortaleza, antigo Seminário da Prainha.
*Não estou recebendo nenhum pagamento para divulgar essa informação.
Att
Prof. Ms. Marney Eduardo Ferreira Cruz
ESPECIALIZAÇÃO
Filosofar com os jovens é, portanto, capacitá-los para o debate, para o confronto de idéias, para o posicionamento diante dos fatos e tomada de decisões, tendo sempre como referencial a tradição do pensamentos filosófico, e ao mesmo tempo, a abertura para a construção de novos pensamentos, uma vez que a curiosidade instigadora dos grandes filósofos é a mesma de todo ser humano e a liberdade de pensar é a matéria prima da filosofia.
Apesar da importância do filosofar para a construção de novas perspectivas pessoais e sociais, há, no entanto, um evidente desinteresse dos alunos pela disciplina de Filosofia nas escolas. Diante deste contexto pergunta-se: a que se deve este desinteresse? Como esta disciplina de tão grande valia vem sendo ministrada para os jovens? Qual a metodologia aplicada? Qual o lugar da filosofia no currículo escolar? Qual a formação exigida pelas Secretarias de Educação para se lecionar essa disciplina?
Diante de todas estas indagações e interesse consciente pelo pensamento filosófico, a Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) toma a iniciativa em promover o Curso de Especialização no Ensino da Filosofia contribuindo, assim, para um ensino de melhor qualidade que desenvolva as condições potenciais de pensar livre e consistente.
OBJETIVO GERAL:
Desenvolver o ato de filosofar tanto no seu uso teórico como prático com o intuito de promover a capacitação e qualificação de 50 professores que lecionam ou que desejem lecionar a disciplina de Filosofia no Ensino Médio.
PROGRAMA CURRICULAR:
Ontologia ou Metafísica 45h/a
Metodologia do Ensino e Pesquisa em Filosofia 20h/a
Lógica 45h/a
Epistemologia 45h/a
Antropologia Filosófica 45h/a
Filosofia Social e Política 45h/a
Estética e Filosofia da Arte 45h/a
Os Sistemas Éticos na História da Filosofia 45h/a
Fundamentos Filosóficos, sociais, culturais e legais da Educação no Brasil 45h/a
Didática e organização curricular 25h/a
INVESTIMENTO
Inscrição/ matrícula: R$ 75,00
Matrícula + 15 parcelas de R$ 275,00
COORDENAÇÃO
Profª Dra. Maria Celeste de Sousa e Profª Dra. Marly Carvalho Soares
FONTE: http://www.catolicadefortaleza.edu.br/ensino-de-filosofia.html
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
O ensino de filosofia e a questão das virtudes
Renata Paiva Cesar
Pensar no ensino de filosofia e na questão das virtudes na filosofia prática
aristotélica não é tarefa fácil. Aristóteles pensou a filosofia de maneira vasta, seus
estudos envolvem diversas áreas, mas para efeito desta pesquisa nos concentramos
na análise da obra Ética à Nicômaco, com o objetivo de compreender qual seria a
função da filosofia prática, quais os elementos envolvidos e principalmente o que seria
a felicidade e as maneiras de alcançá-la. Do mesmo modo, pensar no ensino de
filosofia é pensar em toda problemática envolvida durante toda a história até os dias
de hoje.
Sobre a ética, Aristóteles nos diz que a filosofia prática é uma ciência que
busca investigar o bem, mas relacionado com as ações humanas, com o objetivo de
transformá-las, melhorá-las cada vez mais. Na filosofia prática envolve-se o saber
teórico, já que se faz uma investigação sobre o próprio bem e busca-se teorizar sobre
as ações dos homens, porém, o seu objetivo principal é buscar um saber prático, ou
seja, um saber aplicável. O objetivo então é investigar o que seria o bem para assim
alcançá-lo.
A filosofia prática se distingue das outras ciências pelo seu fim muito
específico: alcançar uma vida melhor. Ao analisarmos a Ética à Nicômaco, nos
deparamos com a concepção de Bem aristotélica, que sugere que nos concentremos
no bem realizável pelo homem.
Todas as nossas ações tendem a um fim e este fim levado em suas últimas
consequências é um fim comum a todos os homens: ser feliz. Todas as nossas ações
visam ao mesmo fim, alcançar a felicidade, entendida como uma realização pessoal,
ter uma vida próspera.
Diante disto, realizou uma investigação sobre o que seria a felicidade e quais
seriam os meios realizáveis para alcançá-la, o que nos levou a questão das virtudes,
pois são elas que constituem o caminho necessário para alcançarmos a eudaimonia.
Considerando então que algo é considerado bom quando realiza sua função própria,
isto é, o homem se tornará bom se for capaz de exercer a função que lhe é própria, ou
seja, agir conforme a razão.
As virtudes são disposições da alma. Assim como nossa alma é dividida em
seu lado racional e outro emocional, as virtudes também se dividem, sendo a virtude
moral a lidar com a parte emocional do homem e a virtude intelectual com a parte
racional.
Entendemos por virtudes morais as virtudes que estão quase sempre
relacionadas com o conceito de justa medida, elas são respostas práticas às
situações. Já as virtudes intelectuais relacionam-se com a parte racional de nossa
alma.
Acredita-se que o estudo da ética, em particular das virtudes, tende a tornar o
ensino de modo geral, mais humano, pois se pretende refletir acerca das ações
humanas, ou seja, analisar como agimos, o porquê agimos assim e deste modo, poder
pensar em outras possibilidades de ação que nos aproxime da felicidade, visto ser
este o fim de todas as nossas ações. A contribuição de uma reflexão acerca das
virtudes na sala de aula do ensino médio seria a de justamente permitir que os alunos
pudessem pensar na questão de uma vida próspera, feliz. E a partir desta reflexão
agirem conforme a função que lhes são próprias, agir conforme a reta razão, agir
virtuosamente.
Sabemos que as virtudes não são inatas, que são aprendidas através da
imitação e repetição. Assim, o ensino das virtudes morais se dá pelo exemplo, mas
isto não invalida a utilização dos livros e teorias, pois com eles é que compreendemos
o que deveríamos fazer ou ser, ou viver... (Comte-Sponville, 2001). Este seria um
primeiro momento de um estudo das virtudes na sala de aula, porém, não basta
teorizar, tem-se que buscar a prática, para que seu exercício torne-se um hábito, como
propõe Aristóteles.
Para Aristóteles a educação ética ajuda a transformar as potencialidades em
ato e deste modo as pessoas serão capazes de viver bem e se realizarem, ou seja,
serão felizes. Cartolano afirma que “a tarefa da filosofia é ser reflexão da prática; é
orientar, organizar e fundamentar a atividade prática do homem, com vistas à
transformação efetiva da realidade” (p. 84, 1985).
A virtude é o que define algo como sendo bom, é uma espécie de poder, mas
um poder específico. Comte-Sponville se aproxima da concepção aristotélica quando
afirma existir uma função própria para o homem, segundo um tipo de vida peculiar e
ao indagarmos sobre qual seria a excelência do homem, Aristóteles responde que é
ter uma vida racional, porém, podemos ir além e afirmar que é necessário, além da
racionalidade, o desejo, a educação, o hábito, a memória... Segundo Comte-Sponville
“a virtude de um ser é o que constitui seu valor, em outras palavras, sua excelência
própria”, ou seja, a virtude do homem é agir humanamente.
Neste sentido a finalidade de toda educação deve ser a de permitir que os
alunos possam exercer a função que lhes é própria, isto é, agir bem, conforme a
atividade virtuosa, de modo que assim possam tornar-se pessoas realizadas e enfim,
felizes.
Nosso trabalho transitou pelas áreas da filosofia prática aristotélica e do ensino
de filosofia no Brasil, porém, não podemos dar tal trabalho como acabado, há muito
ainda que se investigar e, conseqüentemente, aplicar em nossa realidade. Deste
modo, o objetivo é que possamos em breve prosseguir com os estudos e nos
aprofundarmos nestas questões, chegando cada vez mais próximo de uma vida
efetivamente próspera.
FONTE:
http://revistapandora.sites.uol.com.br/
Pensar no ensino de filosofia e na questão das virtudes na filosofia prática
aristotélica não é tarefa fácil. Aristóteles pensou a filosofia de maneira vasta, seus
estudos envolvem diversas áreas, mas para efeito desta pesquisa nos concentramos
na análise da obra Ética à Nicômaco, com o objetivo de compreender qual seria a
função da filosofia prática, quais os elementos envolvidos e principalmente o que seria
a felicidade e as maneiras de alcançá-la. Do mesmo modo, pensar no ensino de
filosofia é pensar em toda problemática envolvida durante toda a história até os dias
de hoje.
Sobre a ética, Aristóteles nos diz que a filosofia prática é uma ciência que
busca investigar o bem, mas relacionado com as ações humanas, com o objetivo de
transformá-las, melhorá-las cada vez mais. Na filosofia prática envolve-se o saber
teórico, já que se faz uma investigação sobre o próprio bem e busca-se teorizar sobre
as ações dos homens, porém, o seu objetivo principal é buscar um saber prático, ou
seja, um saber aplicável. O objetivo então é investigar o que seria o bem para assim
alcançá-lo.
A filosofia prática se distingue das outras ciências pelo seu fim muito
específico: alcançar uma vida melhor. Ao analisarmos a Ética à Nicômaco, nos
deparamos com a concepção de Bem aristotélica, que sugere que nos concentremos
no bem realizável pelo homem.
Todas as nossas ações tendem a um fim e este fim levado em suas últimas
consequências é um fim comum a todos os homens: ser feliz. Todas as nossas ações
visam ao mesmo fim, alcançar a felicidade, entendida como uma realização pessoal,
ter uma vida próspera.
Diante disto, realizou uma investigação sobre o que seria a felicidade e quais
seriam os meios realizáveis para alcançá-la, o que nos levou a questão das virtudes,
pois são elas que constituem o caminho necessário para alcançarmos a eudaimonia.
Considerando então que algo é considerado bom quando realiza sua função própria,
isto é, o homem se tornará bom se for capaz de exercer a função que lhe é própria, ou
seja, agir conforme a razão.
As virtudes são disposições da alma. Assim como nossa alma é dividida em
seu lado racional e outro emocional, as virtudes também se dividem, sendo a virtude
moral a lidar com a parte emocional do homem e a virtude intelectual com a parte
racional.
Entendemos por virtudes morais as virtudes que estão quase sempre
relacionadas com o conceito de justa medida, elas são respostas práticas às
situações. Já as virtudes intelectuais relacionam-se com a parte racional de nossa
alma.
Acredita-se que o estudo da ética, em particular das virtudes, tende a tornar o
ensino de modo geral, mais humano, pois se pretende refletir acerca das ações
humanas, ou seja, analisar como agimos, o porquê agimos assim e deste modo, poder
pensar em outras possibilidades de ação que nos aproxime da felicidade, visto ser
este o fim de todas as nossas ações. A contribuição de uma reflexão acerca das
virtudes na sala de aula do ensino médio seria a de justamente permitir que os alunos
pudessem pensar na questão de uma vida próspera, feliz. E a partir desta reflexão
agirem conforme a função que lhes são próprias, agir conforme a reta razão, agir
virtuosamente.
Sabemos que as virtudes não são inatas, que são aprendidas através da
imitação e repetição. Assim, o ensino das virtudes morais se dá pelo exemplo, mas
isto não invalida a utilização dos livros e teorias, pois com eles é que compreendemos
o que deveríamos fazer ou ser, ou viver... (Comte-Sponville, 2001). Este seria um
primeiro momento de um estudo das virtudes na sala de aula, porém, não basta
teorizar, tem-se que buscar a prática, para que seu exercício torne-se um hábito, como
propõe Aristóteles.
Para Aristóteles a educação ética ajuda a transformar as potencialidades em
ato e deste modo as pessoas serão capazes de viver bem e se realizarem, ou seja,
serão felizes. Cartolano afirma que “a tarefa da filosofia é ser reflexão da prática; é
orientar, organizar e fundamentar a atividade prática do homem, com vistas à
transformação efetiva da realidade” (p. 84, 1985).
A virtude é o que define algo como sendo bom, é uma espécie de poder, mas
um poder específico. Comte-Sponville se aproxima da concepção aristotélica quando
afirma existir uma função própria para o homem, segundo um tipo de vida peculiar e
ao indagarmos sobre qual seria a excelência do homem, Aristóteles responde que é
ter uma vida racional, porém, podemos ir além e afirmar que é necessário, além da
racionalidade, o desejo, a educação, o hábito, a memória... Segundo Comte-Sponville
“a virtude de um ser é o que constitui seu valor, em outras palavras, sua excelência
própria”, ou seja, a virtude do homem é agir humanamente.
Neste sentido a finalidade de toda educação deve ser a de permitir que os
alunos possam exercer a função que lhes é própria, isto é, agir bem, conforme a
atividade virtuosa, de modo que assim possam tornar-se pessoas realizadas e enfim,
felizes.
Nosso trabalho transitou pelas áreas da filosofia prática aristotélica e do ensino
de filosofia no Brasil, porém, não podemos dar tal trabalho como acabado, há muito
ainda que se investigar e, conseqüentemente, aplicar em nossa realidade. Deste
modo, o objetivo é que possamos em breve prosseguir com os estudos e nos
aprofundarmos nestas questões, chegando cada vez mais próximo de uma vida
efetivamente próspera.
FONTE:
http://revistapandora.sites.uol.com.br/
O ENSINO DE FILOSOFIA NO BRASIL
Renata Paiva Cesar
O ensino de Filosofia
O ensino de filosofia no Brasil foi problemático e embora muitos problemas
tenham sido solucionados, ele ainda enfrenta dificuldades. A filosofia como disciplina
entrou e saiu do currículo por diversas vezes.
O objetivo deste capítulo é apresentar um breve histórico da disciplina no Brasil
com um olhar voltado para a necessidade desta disciplina, a problemática que a
envolve e a possibilidade da escolha do ensino da ética como parte do conteúdo a ser
ministrado e assim vislumbrar possibilidades de melhorias no ensino desta disciplina.
Panorama histórico
Portugal exercia forte influência no pensamento do Brasil colônia. A população
da metrópole era um misto de cristãos, judeus e árabes, cada um com suas próprias
concepções de mundo, de valores e com interesses diferentes. Como afirma Cartolano
(1985):
A filosofia foi no Brasil, desde os tempos coloniais, um luxo de
alguns senhores ricos e ilustrados: do colono branco que aqui
chegara e que constituíra a classe dominante da colônia,
conservando os hábitos aristocráticos da classe dirigente da
metrópole (p. 20).
Nos séculos XVI e XVII, depois do surto do café, Portugal entra em decadência
econômica, que foi agravada pelo atraso cultural que o país se encontrava, assim
como pelo fanatismo religioso. Neste momento começam a chegar as ideias políticas e
filosóficas da França, influenciando intelectuais e despertando neles uma vontade de
independência política.
A filosofia nesta época pretendia ultrapassar as ideias da escolástica, era uma
mistura de cartesianismo não tão metafísico e empirismo britânico. Essas ideias,
segundo Cartolano (1985), “vulgarizadoras da ciência e da filosofia” eram difundidas
pela Enciclopédia, em 1750 a 1780, editada por Diderot e a‟Alembert.
O enciclopedismo influenciou muitas pessoas no Brasil, que foram presas pelo
crime de “enciclopedismo” por conta dos levantes contra a cobrança dos quintos,
principalmente em Minas Gerais. O enciclopedismo significava um ato de ideias
opostas às ideias estabelecidas na metrópole e nas colônias.
Com as influências da filosofia moderna, iniciou-se um combate à doutrina dos
jesuítas. O ministro de D. José, marquês de Pombal, instituiu as “aulas regias” em
substituição ao ensino dos jesuítas, convocando pela primeira vez, leigos para
ministrá-las. No entanto, o ensino orientava-se para os mesmos objetivos religiosos e
livrescos dos jesuítas, já que os novos professores tinham sua formação em colégios
jesuítas. O ensino de filosofia permaneceu com o caráter escolástico e livresco.
As ideias do século XVII, como as iluministas, as da filosofia moderna, as do
cartesianismo, as da revolução científica, começaram a penetrar em Portugal e a
iniciar um combate às doutrinas jesuítas. As aulas de filosofia até então seguiam a
rigidez da lógica dos jesuítas, mas foram substituídas por livros e doutrinas mais
recentes.
A ruptura com Portugal gerou um clima de entusiasmo em que as ideias
européias passaram a ser um modelo seguido por muitos intelectuais brasileiros. O
conteúdo dos cursos de filosofia foi impreguinado por um espírito humanístico e
universalista, já que naquele contexto cultural e político as influências do ecletismo
francês inspiravam intelectuais que afirmavam que a filosofia era uma aliada da
religião e de todo o ecletismo.
Já nas províncias, a filosofia era incluída obrigatoriamente no currículo dos
cursos secundários, antes até do Colégio Pedro II cujas disciplinas tinham caráter
propedêutico. Nas aulas encontrava-se ainda “o compendio clássico aristotélicotomista”.
O Brasil, em 1888, passou por transformações importantes no cenário político,
econômico, social e cultural como a construção de companhias anônimas, comerciais
e industriais, a inauguração da linha de telégrafo, a abertura ao tráfego da Estrada
Central do Brasil e também o Banco do Brasil transformou-se em banco de emissão.
Os recentes desenvolvimentos materiais facilitaram a entrada de ideias
estrangeiras que passaram a influenciar a opinião dos intelectuais nacionais. Iniciou-se
no Brasil um movimento de renovação da escolástica, “na tentativa de restaurar o
antigo escolasticismo que fora separado pelas ideias do cartesianismo” (p. 29). A
filosofia ensinada era um misto de ecletismo e cartesianismo.
Na segunda metade do século XIX, “novas ideias começaram a participar da
vida intelectual brasileira e a determinar um progresso do espírito crítico” (Cartolano,
1985, p.30), a saber, as ideias positivistas, evolucionistas, etc.. Nesta época, o
positivismo passou a influenciar a educação brasileira.
Os ideais da Revolução Francesa e a filosofia da Educação de Rousseau
inspiraram Carlos Leôncio de Carvalho e o levaram a instituir em 1879 uma reforma
que tornava completamente livre o ensino primário e secundário no município da Corte
e o superior em todo o Império.
Em 1890 foi decretada, por Benjamin Constan, uma reforma no ensino primário
e secundário do Distrito Federal. Esta reforma foi posta em prática em 1891 que previa
a gratuidade da escola primária, a liberdade e a laicidade do ensino. As disciplinas da
escola secundária eram distribuídas de acordo com a classificação de August Comte,
e a filosofia, segundo esta orientação positivista, não se encaixava como matéria
doutrinal; nesta reforma houve apenas um acréscimo de disciplinas científicas, o que
tornava o ensino mais enciclopédico.
Como já mencionado, as correntes positivistas e evolucionistas influenciaram o
pensamento europeu e brasileiro. Negava-se a metafísica e afirmavam apenas que o
conhecimento está contido nas ciências positivas.
O Brasil, já na época da independência política, ainda preocupava-se mais com
os problemas dos meios culturais europeus do que com os problemas nacionais.
Copiava-se o modelo da universidade napoleônica, que assumia características
próprias em função dos interesses das classes dominantes.
Após 1930, houve mudanças no ensino de filosofia e no contexto educacional,
“As modificações na infra-estrutura econômica, provocando a
diversificação da produção, determinaram novas funções para
a escola que foi, então, chamada a fornecer treinamento e
qualificação de mão-de-obra para a indústria” (Cartolano, p. 55,
1985)
A escola manteve um caráter propedêutico, acadêmico e elitista, atendendo às
exigências de sua maior demanda social, adequando-se aos padrões de educação da
elite, que junto com o interesse das camadas emergentes, determinaram a expansão
da escola, que não levou em consideração as necessidades da sociedade como um
todo. A escola permaneceu sendo vista como via de ascensão social, sendo assim, as
camadas mais baixas passaram a forçar sua entrada na escola para então conseguir
maior destaque na sociedade. Mas a escola capaz de dar status era a escola
acadêmica e não a profissional, então, era naquela que as camadas mais baixas
buscavam; e buscavam não pelo conteúdo livresco e enciclopédico, mas pela posição
social que podiam alcançar através do título por ela conferido.
FONTE
Leia o restante desse artigo no site da Revista Pandora:
revistapandora.sites.uol.com.br
Revista Pandora Brasil - Nº 38 – Janeiro de 2012 - ISSN 2175-3318
“Filosofia, educação e virtude: o caminho para a felicidade" Textos de Renata Paiva Cesar”
O ensino de Filosofia
O ensino de filosofia no Brasil foi problemático e embora muitos problemas
tenham sido solucionados, ele ainda enfrenta dificuldades. A filosofia como disciplina
entrou e saiu do currículo por diversas vezes.
O objetivo deste capítulo é apresentar um breve histórico da disciplina no Brasil
com um olhar voltado para a necessidade desta disciplina, a problemática que a
envolve e a possibilidade da escolha do ensino da ética como parte do conteúdo a ser
ministrado e assim vislumbrar possibilidades de melhorias no ensino desta disciplina.
Panorama histórico
Portugal exercia forte influência no pensamento do Brasil colônia. A população
da metrópole era um misto de cristãos, judeus e árabes, cada um com suas próprias
concepções de mundo, de valores e com interesses diferentes. Como afirma Cartolano
(1985):
A filosofia foi no Brasil, desde os tempos coloniais, um luxo de
alguns senhores ricos e ilustrados: do colono branco que aqui
chegara e que constituíra a classe dominante da colônia,
conservando os hábitos aristocráticos da classe dirigente da
metrópole (p. 20).
Nos séculos XVI e XVII, depois do surto do café, Portugal entra em decadência
econômica, que foi agravada pelo atraso cultural que o país se encontrava, assim
como pelo fanatismo religioso. Neste momento começam a chegar as ideias políticas e
filosóficas da França, influenciando intelectuais e despertando neles uma vontade de
independência política.
A filosofia nesta época pretendia ultrapassar as ideias da escolástica, era uma
mistura de cartesianismo não tão metafísico e empirismo britânico. Essas ideias,
segundo Cartolano (1985), “vulgarizadoras da ciência e da filosofia” eram difundidas
pela Enciclopédia, em 1750 a 1780, editada por Diderot e a‟Alembert.
O enciclopedismo influenciou muitas pessoas no Brasil, que foram presas pelo
crime de “enciclopedismo” por conta dos levantes contra a cobrança dos quintos,
principalmente em Minas Gerais. O enciclopedismo significava um ato de ideias
opostas às ideias estabelecidas na metrópole e nas colônias.
Com as influências da filosofia moderna, iniciou-se um combate à doutrina dos
jesuítas. O ministro de D. José, marquês de Pombal, instituiu as “aulas regias” em
substituição ao ensino dos jesuítas, convocando pela primeira vez, leigos para
ministrá-las. No entanto, o ensino orientava-se para os mesmos objetivos religiosos e
livrescos dos jesuítas, já que os novos professores tinham sua formação em colégios
jesuítas. O ensino de filosofia permaneceu com o caráter escolástico e livresco.
As ideias do século XVII, como as iluministas, as da filosofia moderna, as do
cartesianismo, as da revolução científica, começaram a penetrar em Portugal e a
iniciar um combate às doutrinas jesuítas. As aulas de filosofia até então seguiam a
rigidez da lógica dos jesuítas, mas foram substituídas por livros e doutrinas mais
recentes.
A ruptura com Portugal gerou um clima de entusiasmo em que as ideias
européias passaram a ser um modelo seguido por muitos intelectuais brasileiros. O
conteúdo dos cursos de filosofia foi impreguinado por um espírito humanístico e
universalista, já que naquele contexto cultural e político as influências do ecletismo
francês inspiravam intelectuais que afirmavam que a filosofia era uma aliada da
religião e de todo o ecletismo.
Já nas províncias, a filosofia era incluída obrigatoriamente no currículo dos
cursos secundários, antes até do Colégio Pedro II cujas disciplinas tinham caráter
propedêutico. Nas aulas encontrava-se ainda “o compendio clássico aristotélicotomista”.
O Brasil, em 1888, passou por transformações importantes no cenário político,
econômico, social e cultural como a construção de companhias anônimas, comerciais
e industriais, a inauguração da linha de telégrafo, a abertura ao tráfego da Estrada
Central do Brasil e também o Banco do Brasil transformou-se em banco de emissão.
Os recentes desenvolvimentos materiais facilitaram a entrada de ideias
estrangeiras que passaram a influenciar a opinião dos intelectuais nacionais. Iniciou-se
no Brasil um movimento de renovação da escolástica, “na tentativa de restaurar o
antigo escolasticismo que fora separado pelas ideias do cartesianismo” (p. 29). A
filosofia ensinada era um misto de ecletismo e cartesianismo.
Na segunda metade do século XIX, “novas ideias começaram a participar da
vida intelectual brasileira e a determinar um progresso do espírito crítico” (Cartolano,
1985, p.30), a saber, as ideias positivistas, evolucionistas, etc.. Nesta época, o
positivismo passou a influenciar a educação brasileira.
Os ideais da Revolução Francesa e a filosofia da Educação de Rousseau
inspiraram Carlos Leôncio de Carvalho e o levaram a instituir em 1879 uma reforma
que tornava completamente livre o ensino primário e secundário no município da Corte
e o superior em todo o Império.
Em 1890 foi decretada, por Benjamin Constan, uma reforma no ensino primário
e secundário do Distrito Federal. Esta reforma foi posta em prática em 1891 que previa
a gratuidade da escola primária, a liberdade e a laicidade do ensino. As disciplinas da
escola secundária eram distribuídas de acordo com a classificação de August Comte,
e a filosofia, segundo esta orientação positivista, não se encaixava como matéria
doutrinal; nesta reforma houve apenas um acréscimo de disciplinas científicas, o que
tornava o ensino mais enciclopédico.
Como já mencionado, as correntes positivistas e evolucionistas influenciaram o
pensamento europeu e brasileiro. Negava-se a metafísica e afirmavam apenas que o
conhecimento está contido nas ciências positivas.
O Brasil, já na época da independência política, ainda preocupava-se mais com
os problemas dos meios culturais europeus do que com os problemas nacionais.
Copiava-se o modelo da universidade napoleônica, que assumia características
próprias em função dos interesses das classes dominantes.
Após 1930, houve mudanças no ensino de filosofia e no contexto educacional,
“As modificações na infra-estrutura econômica, provocando a
diversificação da produção, determinaram novas funções para
a escola que foi, então, chamada a fornecer treinamento e
qualificação de mão-de-obra para a indústria” (Cartolano, p. 55,
1985)
A escola manteve um caráter propedêutico, acadêmico e elitista, atendendo às
exigências de sua maior demanda social, adequando-se aos padrões de educação da
elite, que junto com o interesse das camadas emergentes, determinaram a expansão
da escola, que não levou em consideração as necessidades da sociedade como um
todo. A escola permaneceu sendo vista como via de ascensão social, sendo assim, as
camadas mais baixas passaram a forçar sua entrada na escola para então conseguir
maior destaque na sociedade. Mas a escola capaz de dar status era a escola
acadêmica e não a profissional, então, era naquela que as camadas mais baixas
buscavam; e buscavam não pelo conteúdo livresco e enciclopédico, mas pela posição
social que podiam alcançar através do título por ela conferido.
FONTE
Leia o restante desse artigo no site da Revista Pandora:
revistapandora.sites.uol.com.br
Revista Pandora Brasil - Nº 38 – Janeiro de 2012 - ISSN 2175-3318
“Filosofia, educação e virtude: o caminho para a felicidade" Textos de Renata Paiva Cesar”
sábado, 11 de fevereiro de 2012
ANTOLOGIA DE TEXTOS FILOSÓFICOS: O CLÁSSICO EM SALA DE AULA
O uso do texto clássico em sala de aula permanece uma incômoda incógnita nas discussões sobre o ensino da filosofia. Há quem seja favorável, há quem apresente restrições e há quem rejeite completamente. Em 2009, a equipe de filosofia da Secretaria de Estado da Educação do Paraná tomou uma posição nesse debate: publicou uma antologia de textos clássicos de filosofia. A Seção
Filosofia na Escola ouviu os responsáveis por essa publicação e apresenta suas perspectivas sobre o uso dos textos dos filósofos nas salas de aula do ensino médio.
por Juliano Orlandi
Duas ideias sobre a investigação filosófica parecem ter triunfado no meio acadêmico brasileiro: a primeira afirma que o lugar privilegiado para encontrar a filosofia é o texto clássico, e a segunda, inevitável consequência da anterior, diz que, para filosofar, é preciso freqüentar as palavras dos filósofos. Essas perspectivas se irradiaram nas universidades brasileiras, sobretudo, a partir do intercâmbio com os filósofos franceses que lecionaram na Universidade de São Paulo em meados do século XX, muito embora, em alguns lugares do país, a origem dessas ideias remonte a outras tradições de pensamento. Seja como for, a preferência pela lida com o texto clássico implicou no embate com uma perspectiva de exposição filosófica bastante comum nas universidades brasileiras: era a tradicional perspectiva dos manuais de filosofia.
Não é uma tarefa fácil precisar a natureza e a origem dos manuais de filosofia que circulavam entre os estudiosos brasileiros. O termo “manual” é utilizado para intitular obras filosóficas de intenções e características muito diferentes. Se considerarmos, contudo, apenas os manuais que eram utilizados para o ensino da filosofia na época em que a missão francesa desembarcou, é possível delimitar algumas características básicas. Eles eram, em algum nível, materiais dogmáticos, privilegiando sistemas filosóficos em detrimento de outros. Theobaldo M. Santos, no prefácio ao seu Manual de Filosofia, explicava seu esforço como “uma síntese da filosofia tomista com os ensinamentos da ciência moderna”. Os manuais estavam ligados com maior ou menor intensidade à filosofia que se ensinava nas instituições católicas de ensino. E, finalmente, estavam orientados por perspectivas didáticas ou pedagógicas.
Para aqueles que estão hoje nas universidades, especialmente nos grandes centros, os manuais de filosofia são realidades distantes e sem qualquer relevância para suas atividades. Há certamente estudantes na graduação que sequer folhearam uma obra dessa natureza. Elas possuem, contudo, uma sobrevida num contexto diferente. Quando se trata do ensino da filosofia no nível médio, os manuais, recauchutados e com novas roupagens, ainda fazem sentir sua força e determinam amplamente a prática de muitos professores.
O professor Bernardo Kestring, membro da equipe de filosofia da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED – PR) de 2005 a 2010, lembra que, quando os professores da rede estadual eram reunidos para discutir as questões relativas ao ensino de sua disciplina, não era incomum encontrar aqueles que organizavam suas aulas com base em manuais de história da filosofia, tal como o de Giovanni Reale e Dario Antiseri. Estes materiais não correspondem exatamente aos antigos manuais de filosofia, mas guardam algumas semelhanças: são obras de caráter acentuadamente didático que pretendem apresentar a tradição filosófica de forma sintética e organizada.
O professor Kestring conta que, quando questionava os professores sobre o uso de textos clássicos em sala de aula, a resposta era predominantemente negativa e vinha acompanhada de inúmeras ressalvas à possibilidade de ensinar filosofia com esse tipo de material. O argumento mais comum consistia em acusar os textos clássicos de serem inacessíveis aos estudantes do nível médio. Ou porque a linguagem representava um empecilho ou porque a argumentação era ininteligível. De uma forma ou de outra, os professores estavam, em sua grande maioria, convencidos de que não havia espaço para o texto clássico nas salas de aula.
O exemplo do estado do Paraná nada mais é que o reflexo de um paradoxo que se estabeleceu por todo Brasil entre o ensino universitário da filosofia e o ensino escolar: o material rejeitado nas universidades, o manual de filosofia, predominava amplamente nas escolas. Se a filosofia, conforme a orientação francesa, está nos textos clássicos, é no mínimo questionável que os professores do ensino médio a procurem nos manuais didáticos. E esse questionamento se desdobra de diversas maneiras: é legítima a explicação de que os estudantes das escolas possuem uma incapacidade natural (própria de sua idade) para lidar com as palavras dos filósofos? É possível ensinar filosofia apenas com o discurso acentuadamente didático dos manuais? É, de fato, impossível a um estudante do ensino médio ler, compreender e interpretar um texto clássico de filosofia?
O professor Kestring e seus colegas na SEED – PR responderam negativamente todas essas questões e, em 2009, tentaram tornar o ensino escolar da filosofia mais coerente com o ensino universitário. Eles publicaram uma reunião volumosa de excertos de obras clássicas de filosofia destinadas ao ensino médio e a intitularam Antologia de Textos Filosóficos [1]. Em lotes que variavam de acordo com o tamanho dos colégios, ela foi distribuída nas bibliotecas escolares da rede estadual do Paraná com o intuito de se transformar num dos principais materiais para o ensino da filosofia.
O professor Jairo Marçal, organizador da obra, justifica sua publicação dizendo: “uma opção pelo caminho de supostas facilitações significaria a renuncia à própria Filosofia e, consequentemente, isso geraria uma desconfiança quanto à sua presença no currículo escolar. Filosofia deve ser Filosofia em qualquer nível de ensino.” Se, do ponto de vista acadêmico, ela deve ser procurada nos textos clássicos, no nível médio, não pode ser diferente. “O desafio consiste, afirma o professor Marçal, em saber dosar”.
Para explicar o que entende por “dosar”, o organizador da Antologia destaca suas preocupações no momento de confecção do material. “Em primeiro lugar, a escolha dos textos ou excertos que integram a Antologia foi realizada em função daquilo que fosse mais acessível aos estudantes do nível médio. Em segundo lugar, tivemos o cuidado de encomendar dos tradutores ou de estudiosos reconhecidos curtas introduções a cada um dos textos. O objetivo era apresentar informações de cunho biográfico ou histórico que pudessem ajudar na compreensão do texto e sugestões de temas, questões ou interpretações que pudessem ser desenvolvidas pelos professores em sala de aula.” O resultado desse processo é um material “didático” de filosofia bastante incomum no Brasil.
É interessante lembrar que uma publicação dessa natureza não é necessariamente excludente e que outros materiais didáticos podem ser utilizados concomitantemente. A equipe de filosofia da SEED – PR, além da Antologia, municiou os professores de sua rede estadual com um Livro Didático de Filosofia [2] e uma biblioteca para o professor, onde se encontra, por exemplo, a História da Filosofia de Giovanni Reale e Dario Antiseri. “A Antologia, afirma o professor Marçal, não é mais importante que os outros materiais, eles são complementares.”
Desse ponto de vista, o uso do texto clássico no nível médio de ensino não é um problema muito diferente do uso de qualquer material em sala de aula. A exigência consiste em reconhecer as circunstâncias e os meios para que ele se torne realmente significativo no ensino da filosofia. Este reconhecimento depende obviamente de um conhecimento sólido e rigoroso da tradição filosófica, mas também de uma sensibilidade para as dificuldades e capacidades dos estudantes.
Talvez fosse a falta dessas duas condições que tornavam os professores do Paraná tão descrentes no uso do texto clássico. Sendo assim, é legítimo imaginar que o ensino da filosofia a partir das palavras dos filósofos seja possível, uma vez que tais condições sejam criadas. Eis um desafio que se apresenta não propriamente às escolas, mas aos responsáveis pela formação dos professores, a saber, os cursos de licenciatura em filosofia. Se for legítimo generalizar o exemplo paranaense para o resto do Brasil, então a efetivação do ensino da filosofia a partir dos textos clássicos é algo que depende em grande parte das universidades brasileiras.
________________________________________
[1] O material está disponível para download gratuito no endereço www.educadores.diaadia.pr.gov.br
[2] Disponível para download gratuito no endereço www.diaadiaeducacao.pr.gov.br
FONTE: FILOSOFIA NA ESCOLA
Filosofia na Escola ouviu os responsáveis por essa publicação e apresenta suas perspectivas sobre o uso dos textos dos filósofos nas salas de aula do ensino médio.
por Juliano Orlandi
Duas ideias sobre a investigação filosófica parecem ter triunfado no meio acadêmico brasileiro: a primeira afirma que o lugar privilegiado para encontrar a filosofia é o texto clássico, e a segunda, inevitável consequência da anterior, diz que, para filosofar, é preciso freqüentar as palavras dos filósofos. Essas perspectivas se irradiaram nas universidades brasileiras, sobretudo, a partir do intercâmbio com os filósofos franceses que lecionaram na Universidade de São Paulo em meados do século XX, muito embora, em alguns lugares do país, a origem dessas ideias remonte a outras tradições de pensamento. Seja como for, a preferência pela lida com o texto clássico implicou no embate com uma perspectiva de exposição filosófica bastante comum nas universidades brasileiras: era a tradicional perspectiva dos manuais de filosofia.
Não é uma tarefa fácil precisar a natureza e a origem dos manuais de filosofia que circulavam entre os estudiosos brasileiros. O termo “manual” é utilizado para intitular obras filosóficas de intenções e características muito diferentes. Se considerarmos, contudo, apenas os manuais que eram utilizados para o ensino da filosofia na época em que a missão francesa desembarcou, é possível delimitar algumas características básicas. Eles eram, em algum nível, materiais dogmáticos, privilegiando sistemas filosóficos em detrimento de outros. Theobaldo M. Santos, no prefácio ao seu Manual de Filosofia, explicava seu esforço como “uma síntese da filosofia tomista com os ensinamentos da ciência moderna”. Os manuais estavam ligados com maior ou menor intensidade à filosofia que se ensinava nas instituições católicas de ensino. E, finalmente, estavam orientados por perspectivas didáticas ou pedagógicas.
Para aqueles que estão hoje nas universidades, especialmente nos grandes centros, os manuais de filosofia são realidades distantes e sem qualquer relevância para suas atividades. Há certamente estudantes na graduação que sequer folhearam uma obra dessa natureza. Elas possuem, contudo, uma sobrevida num contexto diferente. Quando se trata do ensino da filosofia no nível médio, os manuais, recauchutados e com novas roupagens, ainda fazem sentir sua força e determinam amplamente a prática de muitos professores.
O professor Bernardo Kestring, membro da equipe de filosofia da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED – PR) de 2005 a 2010, lembra que, quando os professores da rede estadual eram reunidos para discutir as questões relativas ao ensino de sua disciplina, não era incomum encontrar aqueles que organizavam suas aulas com base em manuais de história da filosofia, tal como o de Giovanni Reale e Dario Antiseri. Estes materiais não correspondem exatamente aos antigos manuais de filosofia, mas guardam algumas semelhanças: são obras de caráter acentuadamente didático que pretendem apresentar a tradição filosófica de forma sintética e organizada.
O professor Kestring conta que, quando questionava os professores sobre o uso de textos clássicos em sala de aula, a resposta era predominantemente negativa e vinha acompanhada de inúmeras ressalvas à possibilidade de ensinar filosofia com esse tipo de material. O argumento mais comum consistia em acusar os textos clássicos de serem inacessíveis aos estudantes do nível médio. Ou porque a linguagem representava um empecilho ou porque a argumentação era ininteligível. De uma forma ou de outra, os professores estavam, em sua grande maioria, convencidos de que não havia espaço para o texto clássico nas salas de aula.
O exemplo do estado do Paraná nada mais é que o reflexo de um paradoxo que se estabeleceu por todo Brasil entre o ensino universitário da filosofia e o ensino escolar: o material rejeitado nas universidades, o manual de filosofia, predominava amplamente nas escolas. Se a filosofia, conforme a orientação francesa, está nos textos clássicos, é no mínimo questionável que os professores do ensino médio a procurem nos manuais didáticos. E esse questionamento se desdobra de diversas maneiras: é legítima a explicação de que os estudantes das escolas possuem uma incapacidade natural (própria de sua idade) para lidar com as palavras dos filósofos? É possível ensinar filosofia apenas com o discurso acentuadamente didático dos manuais? É, de fato, impossível a um estudante do ensino médio ler, compreender e interpretar um texto clássico de filosofia?
O professor Kestring e seus colegas na SEED – PR responderam negativamente todas essas questões e, em 2009, tentaram tornar o ensino escolar da filosofia mais coerente com o ensino universitário. Eles publicaram uma reunião volumosa de excertos de obras clássicas de filosofia destinadas ao ensino médio e a intitularam Antologia de Textos Filosóficos [1]. Em lotes que variavam de acordo com o tamanho dos colégios, ela foi distribuída nas bibliotecas escolares da rede estadual do Paraná com o intuito de se transformar num dos principais materiais para o ensino da filosofia.
O professor Jairo Marçal, organizador da obra, justifica sua publicação dizendo: “uma opção pelo caminho de supostas facilitações significaria a renuncia à própria Filosofia e, consequentemente, isso geraria uma desconfiança quanto à sua presença no currículo escolar. Filosofia deve ser Filosofia em qualquer nível de ensino.” Se, do ponto de vista acadêmico, ela deve ser procurada nos textos clássicos, no nível médio, não pode ser diferente. “O desafio consiste, afirma o professor Marçal, em saber dosar”.
Para explicar o que entende por “dosar”, o organizador da Antologia destaca suas preocupações no momento de confecção do material. “Em primeiro lugar, a escolha dos textos ou excertos que integram a Antologia foi realizada em função daquilo que fosse mais acessível aos estudantes do nível médio. Em segundo lugar, tivemos o cuidado de encomendar dos tradutores ou de estudiosos reconhecidos curtas introduções a cada um dos textos. O objetivo era apresentar informações de cunho biográfico ou histórico que pudessem ajudar na compreensão do texto e sugestões de temas, questões ou interpretações que pudessem ser desenvolvidas pelos professores em sala de aula.” O resultado desse processo é um material “didático” de filosofia bastante incomum no Brasil.
É interessante lembrar que uma publicação dessa natureza não é necessariamente excludente e que outros materiais didáticos podem ser utilizados concomitantemente. A equipe de filosofia da SEED – PR, além da Antologia, municiou os professores de sua rede estadual com um Livro Didático de Filosofia [2] e uma biblioteca para o professor, onde se encontra, por exemplo, a História da Filosofia de Giovanni Reale e Dario Antiseri. “A Antologia, afirma o professor Marçal, não é mais importante que os outros materiais, eles são complementares.”
Desse ponto de vista, o uso do texto clássico no nível médio de ensino não é um problema muito diferente do uso de qualquer material em sala de aula. A exigência consiste em reconhecer as circunstâncias e os meios para que ele se torne realmente significativo no ensino da filosofia. Este reconhecimento depende obviamente de um conhecimento sólido e rigoroso da tradição filosófica, mas também de uma sensibilidade para as dificuldades e capacidades dos estudantes.
Talvez fosse a falta dessas duas condições que tornavam os professores do Paraná tão descrentes no uso do texto clássico. Sendo assim, é legítimo imaginar que o ensino da filosofia a partir das palavras dos filósofos seja possível, uma vez que tais condições sejam criadas. Eis um desafio que se apresenta não propriamente às escolas, mas aos responsáveis pela formação dos professores, a saber, os cursos de licenciatura em filosofia. Se for legítimo generalizar o exemplo paranaense para o resto do Brasil, então a efetivação do ensino da filosofia a partir dos textos clássicos é algo que depende em grande parte das universidades brasileiras.
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[1] O material está disponível para download gratuito no endereço www.educadores.diaadia.pr.gov.br
[2] Disponível para download gratuito no endereço www.diaadiaeducacao.pr.gov.br
FONTE: FILOSOFIA NA ESCOLA
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